“Se, depois da minha reflexão, se comprovar que de facto reflete o chamamento do povo, eu garanto, aqui e agora, não tenho nenhuma vergonha de dizer que vou avançar, sem problemas”, declarou à comunicação social Venâncio Mondlane, momentos após submeter um documento ao Tribunal Administrativo no âmbito dos recursos que contestam os resultados das eleições de 11 de outubro em Moçambique.
Em causa estão as declarações do porta-voz daquela força política, José Manteigas, na quarta-feira, dando conta de que a Renamo vai apostar no atual presidente do partido para as presidenciais deste ano, apesar das críticas de segmentos que exigem a sua renúncia, acusando-o de inércia.
“Ossufo Momade é o nosso candidato e o presidente que está a trazer sucessos ao partido”, declarou José Manteigas, o que gerou alguma polémica internamente, tendo em conta que o candidato do partido deve ser escolhido em congresso, que devia ser realizado neste ano, segundo os estatutos da Renamo.
A decisão final de Venâncio Mondlane, entre os nomes apontados como alternativa com capital político dentro do principal partido da oposição, está dependente de uma avaliação da sua base de apoio popular, um trabalho que, segundo o político, está a ser feito e a amostra já ultrapassou os 60%.
“Se eu chegar à conclusão, depois de completar os 40% da amostra, que de facto há um apoio dos membros da Renamo e também dos eleitores, dos jovens, dos moçambicanos (…), vou avançar”, frisou.
Para Mondlane, ao anunciar Ossufo Momade como “candidato ideal”, o porta-voz da Renamo violou os estatutos, considerando que há dentro do partido órgãos competentes para deliberar sobre o tema.
“As declarações que ele faz não possuem fundamentação legal. Logo, podemos pressupor que as declarações de José Manteigas não refletem a deliberação, consenso e a apreciação de qualquer órgão do partido”, declarou Mondlane, que entende que o porta-voz da Renamo merece até um processo disciplinar.
Na manhã de hoje, um protesto de alguns jovens apoiantes da Renamo contra a escolha do seu atual presidente, Ossufo Momade, para candidato às presidenciais de outubro, foi impedido por seguranças do maior partido da oposição.
O grupo que se manifestou hoje integra sobretudo jovens que participaram nas marchas de contestação após os anúncios dos resultados eleitorais das autárquicas de outubro em Maputo, alguns dos quais chegaram a ser detidos, num escrutínio em que Venâncio Mondlane continua a reclamar vitória, com base nas atas e editais originais das mesas de voto, apesar de ter sido proclamado vencedor o candidato da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder).
A liderança da Renamo tem sido criticada externa e internamente, com o antigo líder do braço armado do partido Timosse Maquinze a acusar Ossufo Momade de inércia face a alegadas irregularidades nas eleições autárquicas moçambicanas de outubro, alegadamente a favor do partido no poder, e de negligência face à situação dos guerrilheiros do partido recentemente desmobilizados.
As eleições gerais, incluindo as sétimas presidenciais e às quais o atual Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, já não pode constitucionalmente concorrer, estão marcadas para 09 de outubro, com um custo de cerca de 6.500 milhões de meticais (96,3 milhões de euros), conforme dotação inscrita pelo Governo na proposta do Orçamento do Estado para 2024.
Venâncio Mondlane, engenheiro florestal e deputado no parlamento pela Renamo, tem 50 anos e é classificado pelos seus simpatizantes como VM7 – o CR7 da política moçambicana, numa alusão a Cristiano Ronaldo.
Leia Também: Capitalização da bolsa moçambicana cresceu 12% em 2023 para 2.638 milhões