Numa tentativa de se distanciar da Rússia e dos seus costumes, a Ucrânia celebrou, pela primeira vez, o Natal a 25 de dezembro. A mudança, que foi decretada em julho pelo presidente Volodymyr Zelensky, foi, para muitos, um sinal de “justiça histórica”.
“É justiça histórica”, considerou Yevhen Konyk, um militar de 44 anos que, com a sua família, participou em celebrações tradicionais num museu ao ar livre em Kyiv.
“Temos de avançar não só com o mundo, mas também com as tradições do nosso país e superar os resquícios imperiais que tínhamos”, complementou, citado pela Associated Press.
É que, recorde-se, a Ucrânia é predominantemente cristã ortodoxa, mas a fé daquele povo está dividida entre duas igrejas, uma das quais detém uma longa afiliação com a Igreja Ortodoxa Russa. E, apesar de em 2022 se ter declarado autónoma, a Igreja Ortodoxa Ucraniana continuou a seguir o mesmo calendário litúrgico que a Rússia, celebrando o Natal a 7 de janeiro.
Este ano, em Kryvorivnia, milhares de fiéis em trajes tradicionais saíram à rua e dirigiram-se à famosa igreja de madeira local “para rezar” por aqueles que se encontravam na linha da frente, a cerca de 800 quilómetros.
“As pessoas compreendem que vivemos aqui da maneira mais segura possível. Os mísseis não voam aqui, as bombas não explodem, mas perdemos muitos homens”, disse Olha Mynykh, de 27 anos, em frente à casa de um soldado que foi dado como desaparecido.
E continuou: “As pessoas não sentem alegria. Claro que sentem alegria por causa do Natal, porque é impossível não sentir a luz de Deus no coração. Mas a escala da celebração, a natureza da celebração, obviamente mudou. Não é tão alegre e divertido como antes.”
Este sentimento foi ecoado por Asia Landarenko, de 63 anos, que assinalou que o seu filho está a lutar pela Ucrânia.
“A guerra afeta tudo, inclusivamente o humor. A verdadeira celebração do Natal será depois da vitória, mas assim como o Salvador nasceu, assim será a nossa vitória”, disse.
Lançada a 24 de fevereiro de 2022, a ofensiva militar russa na Ucrânia já provocou a fuga de mais de 14,6 milhões de pessoas, segundo os dados mais recentes da Organização das Nações Unidas (ONU), que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A entidade confirmou ainda que já morreram mais de 10 mil civis desde o início da guerra, sublinhando, contudo, que estes números estão muito aquém dos reais.
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